domingo, 18 de abril de 2010

Óleos usados para produção de biodiesel

Daniel Melo, residente em S. Miguel encontra-se a fazer uma recolha de óleos alimentares usados para produzir biodiesel. Até ao momento, o balanço é positivo.



A ideia de recolha de óleos alimentares usados para a transformação em biodiesel é fruto das preocupações de ambientais de Daniel Melo, que decidiu assim levar a cabo esta experiência piloto. "Os óleos usados são uma das matérias-primas para concretizar o biodiesel, talvez o meio mais fácil e menos dispendioso de obter. Esta escolha surgiu pelo facto de estar a usar algo que não tinha outra alternativa e que muita gente estava a poluir o ambiente, ou simplesmente a contaminar os solos ao enterrarem estes óleos no seu próprio quintal, cometendo assim um crime ambiental"explica.
No mês de Fevereiro, já foi efectuada uma primeira recolha que segundo este interlocutor teve um balanço positivo, tanto na qualidade de biodiesel conseguido, como nos seus derivados que servirão para serem transformados em detergentes ou desengordurantes.
Os participantes na iniciativa, que forneceram a matéria-prima, pertencem a uma faixa etária alargada com idades compreendidas entre os 20 e os 80 anos. Todos eles tinham em comum a sensibilidade pela protecção do ambiente. Quanto à recolha de Março, Daniel Melo adianta que "a adesão tem sido boa. Inclusive a junta de freguesia da minha área, Fajã de Cima, está interessada em desenvolver este projecto em prol de um ambiente mais saudável para todos." Saliente-se que o resultado desta reciclagem não se destina a qualquer fim lucrativo, nem à colocação de produtos à venda no mercado.
Actualmente existem diversos processos para obtenção de biodiesel. "O que estou a utilizar é através de um processo químico que consegue a separação de diversos elementos. Isto requer conhecimentos de química e aplicação de normas de segurança por se lidar com substâncias tóxicas e corrosivas e, sobretudo protecção pessoal adequada", diz Daniel Melo. A grande vantagem deste combustível é ser uma energia renovável que não emite CO2. No que se refere à consciencialização da população em geral para a necessidade da reciclagem, Daniel Melo aponta que "existem algumas pessoas que tem consciência de que os óleos usados, se não forem devidamente recolhidos, são perigosos para o ambiente. Dou como exemplo a freguesia de S. Roque, onde pessoas iam entregar óleo de fritura usado a uma oficina de automóveis, em que habitualmente são feitas recolhas de óleos queimados de viaturas, uma vez que não existem oficialmente oleões próprios para os da fritura a nível doméstico. No entanto, na maioria dos casos não existe consciência por parte da população em geral para este problema específico".
Na opinião de Daniel Melo, apesar de em Portugal já existir legislação em vigor sobre esta matéria, tal como em toda a Europa Comunitária, na prática ainda há muito a concretizar. "Nos Açores já existem algumas empresas a recolher óleos de restauração, que é o que lhes interessa. Mas a nível residencial ou doméstico, não interessa a estas companhias recolher um litro de óleo usado por cada casinha. As autarquias ainda não implementaram os pontos de recolha com oleoões, conforme manda a lei em vigor."
O desperdício que a população em geral faz dos bens que consome é, segundo Daniel Melo, preocupante. "Para evitar os desperdícios é necessário primeiro haver campanhas de sensibilização que ainda não existem, políticas de recolha de lixos tóxicos que ainda não existem na área doméstica. Ainda há pouco tempo estive numa freguesia desta ilha, onde os óleos queimados de viaturas, restos de tintas de pintura automóveis, entre outros agentes bastante poluentes, são lançados na ribeira, ali mesmo ao lado. "Este projecto não conta com ajudas financeiras ou oficiosas, daí considerar que está a dar um bom exemplo à sociedade, pela não dependência de subsídios governamentais nacionais ou europeus. "Estas são por norma demasiado burocráticas. Toda a tecnologia que envolve esta reciclagem que tenho andado a fazer foi conseguida depois de muita dedicação e investigação pessoal, tendo, na sua maioria, sido importada de outros países europeus", refere Daniel Melo.
"No nosso país há uma política de aberração em relação ao biodiesel"

Daniel Melo considera incompreensíveis as restrições e impostos que caem sobre o uso de biodiesel em Portugal, que a seu ver contrastam visivelmente com as medidas adoptadas em outros países da Europa. "Para uma coisa somos europeus, mas para outras somos do terceiro mundo. Na Espanha, o biodiesel é vendido nas bombas de gasolina e a um preço mais módico que o gasóleo fóssil. Na Inglaterra qualquer cidadão pode produzir 25.000 litros de biodiesel por ano e usar no seu carro sem pagar impostos. Em Portugal, se um automobilista encher o depósito com biodiesel, o carro é apreendido e o proprietário será alvo de uma contravenção grave", acusa.


PAULA CRISTINA GOUVEIA
16 de Abril de 2010

Fonte:http://www.expressodasnove.pt/interiores.php?id=5229

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